segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Paz, felicidade e redes sociais

Diz o Nobel da Paz que...

«o emprego é um tipo de escravatura porque se está às ordens de outra pessoa. Aceita-se um emprego, há horários e condições que se têm de aceitar: por isso não se é livre. Porquê escolher isso? Por que não ser livre, tomar as decisões sobre o que se quer fazer? Isso é o estado natural do ser humano. Quando se aceita um emprego começa-se por baixo. Vai-se subindo de nível, até que, no fim da vida, eventualmente se chega ao topo. Isso é uma utilização muito limitada do talento humano. Os seres humanos têm um poder criativo tão grande. Porquê perder a energia e o poder, fazendo algo que outros mandaram, e que nós podemos não gostar, só para ter um cheque ao fim do mês? Assim estamos a vender-nos. E para quê? Temos é que fazer as coisas de que gostamos. Por isso, o nosso estado natural é sermos criadores do nosso próprio emprego, sermos, nós próprios, empreendedores.

Como é que seria o mundo só com empreendedores? Não precisamos de pessoas que sigam outras?
Seria divertido, toda a gente ia adorar. Imagine que eu seria empreendedor e você também. Você precisava de mim e eu de si, teríamos uma parceria, trabalharíamos juntos. Seríamos livres. E esse seria o nosso trabalho. Faria as coisas porque queria, e não porque precisava.»

(Muhammad Yunus, artigo completo aqui...)

Entre o I think careers are a 20th century invention e the things you own end up owning you, esta lógica de 'ganhar' dinheiro para termos o que nos dizem que é importante - casa, carro, férias, gadgets... - é conducente a uma vida de escravatura, sim! Durante a nossa vida adulta passamos a maioria do nosso tempo a dormir e a sonhar com mais e melhor(es coisas) ou a trabalhar para as ter. Entre 6h de sono, que devia ser de qualidade e com total ausência de stress e 8h de trabalho que deveria ser de entrega e motivo de orgulho, investimos tanto em coisas que realmente não gostamos, para impressionar pessoas que, no mínimo, não nos interessam assim tanto e com o objectivo último e premente de nos tornarmos em algo que contraria a nossa mais intrínseca forma de ser. Na maior parte das situações até nos limitamos a nós próprios porque há regras estúpidas em jeito de 'porque sim', que nos são impostas a todo o momento por outros e por nós próprios, tanto em ambiente profissional como social. Somos demasiado exigentes com tudo e todos e isso até poderia ser bom, produtivo, desde que devidamente direccionado.

Vivemos tempos de livre e fácil acesso à informação, estando constante e frustrantemente inundados em estudos científicos, reportagens e artigos de opinião, sempre controlados pela confusão da realidade que nos apresentam, normalmente paradoxal e conflituosa... são os tempos dos treinadores de bancada, toda a gente tem direito a uma opinião... bah! Por mais ridículo que pareça, é um facto que hoje em dia é importante parecer que se tem ou que se é antes de ter ou ser. As páginas de Facebook, Twitter e Instagram iludem com um mar de selfies descontextualizadas, os blogs e o YouTube mentem descaradamente com vídeos manipulados mas ninguém liga, ou pior, entra-se numa corrida que leva a uma espiral de ilusão que não faz qualquer sentido... só 'porque sim'.

É sabido, pelo menos para alguns, que as hierarquias servem para manter o status quo e que certas instituições como as religiosas e políticas são os pilares desta falta de respeito pela humanidade na sua mais básica condição e hoje em dia já ninguém está disposto a confiar em políticos sérios ou líderes religiosos desinteressados, que são raros, mas dispõem-se motivadamente a dar poder a populistas demagogos que são produtos deste frenesim bizarro que promove a ausência de talento e o culto da mediocridade. Não importa se se é bom em alguma coisa, tem de se ser o melhor possível na arte da ilusão e ninguém se apercebe que o truque é sempre o mesmo e igual para todos. Já não há coelhos em cartolas ou cartas de jogo que surpreendam quem quer que seja, quando devíamos era surpreendermo-nos com o nível de falso interesse a que isto chegou, Já não vai havendo muita gente interessada, é tudo uma cambada de interesseiros!

Haja paciência para sobreviver a esta fase da nossa cultura ocidental (cada vez mais globalizada)... Para pegar em mais uma frase de filme: carpe diem e mente aberta!


...quem não 'apanhou', as referências: Into The Wild, Fight Club e Dead Poets Society.

Sem comentários: